quinta-feira, fevereiro 02, 2006

ME – Cursos Vocacionais nas Escolas Públicas!

Se como alguém disse o discurso político se estrutura, em grande parte, na aceitação da máxima de que “em política aquilo que parece ser é”, os discursos sociais com pretensão à cientificidade parecem cada vez mais aceitar o pressuposto de que aquilo que é raramente coincide com aquilo que parece ser, sendo a crítica do que parece ser uma condição para nos aproximar-mos daquilo que é.

A operação de marketing do ME da intensificação da oferta de cursos vocacionais, em escolas públicas, é como alguém disse: “a montanha pariu um rato” ou “muita parra e pouca uva”. Todos estávamos à espera de implementação deste tipo de formação, em grande número e a nível nacional, mas o Ministério da Educação ficou-se apenas por duas escolas em Lisboa, uma do Porto e outra em Estremoz. Resta saber se o ME vai contra o “lobi” das escolas profissionais privadas tal como no congelamento da carreira dos Profs!

Desde o Sr. Secretário de Estado Joaquim Azevedo ao Sr. Ministro Paulo Portas, ou seja, quase todos os governantes sentiram ou sentem esta necessidade, tal como cada um de nós, mas nada têm feito! As ex-escolas Industriais e Comerciais têm de ser activadas para bem de todos.

Fonte fidedigna informou que há poucos anos um(a) responsável da ex-Escola Industrial e Comercial de Viseu, tentou dividir e transformar o espaço das oficinas de mecanotécnia para sala de aulas de papel e lápis. Outrora, esta Escola com boa reputação a nível nacional, bem posicionada na formação e educação de muitos e bons técnicos alguns ainda no activo como empregadores ou empregados que asseguram muitos postos de trabalho ou desempenham actividades de alta qualidade.

As máquinas estão obsoletas porque não houve actualização. Os responsáveis quanto mais esperam mais difícil se torna a reactivação e quer “eles” queiram ou não este tipo de ensino técnico tem de voltar. Quase todos sentimos isso.

Vários factores vêm dificultando ou impedindo a concretização do direito de aprender: são carências ao nível da formação de professores; de materiais técnico-pedagógicos específicos; de recursos humanos e financeiros; são barreiras arquitectónicas; as escolas sobrelotadas; turmas numerosas; a falta de estruturas adequadas e, finalmente, uma rigidez curricular que, em termos práticos, tem impedido a diversificação do ensino, através de cursos com vertente mais prática, no sentido da adaptação da escola às necessidades educativas de cada aluno ou grupos de alunos na perspectiva de “uma educação para todos”, (UNESCO, 1990).

A crise dos mundos da formação e do trabalho, bem como a crise dos mecanismos clássicos que asseguravam a relação entre ambos parece ser hoje consensualmente aceite.

«O termo “trabalho”, usado no decurso dos séculos para indicar as obras humildes dos Homens e das Mulheres que daí não retiravam qualquer proveito», Maurice Godelier 1986, estava relacionada com o exercício de actividades penosas.

Nas cidades da Idade Média, a aprendizagem directa era a regra, a escola a excepção, também não havia uma idade para aprender. Era possível faze-lo em qualquer idade e em diferentes “escolas”.

Apesar da importância quantitativa das “escolas de caridade” na produção de disposições sociais para a escolarização, foi nos colégios que se desenvolveu a moderna tecnologia de ensino. Criados no sec. XIII por doadores que em lugar de apoiarem individualmente os estudantes pobres, preferiram abrir estabelecimentos que assegurassem o seu alojamento e alimentação.

Por analogia criaram-se as escolas profissionais que ao que parece foi um falhanço em termos de formação centifico-prática no entender de muitos empresários! Servem para arranjar uns “tachos” aos aposentados, empregos a familiares e amigos e acumulação para alguns Profs. do ensino público. Uma escola até se dá ao luxo de, apenas, aceitar candidatos por ordem de chegada, “obrigando-os” a pernoitar à porta da escola, vários dias, em tendas de campismo e com chamada de duas em duas horas (metodologias inaceitáveis).

A participação democrática dos alunos está ferida de morte por culpa do insucesso e do abandono escolar. Estes dois fenómenos são as principais causas da desmotivação dos jovens.

Jacinto Figueiredo, 02-02-2006.

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