terça-feira, fevereiro 14, 2006

Portugal está a arder porque alguém quer que arda?

Ou melhor, porque muita gente quer que ele arda? Há muita gente a beneficiar, directa ou indirectamente, da terra queimada?

Oficialmente, continua a correr a versão de que não há motivações económicas para a maioria dos incêndios! Continua a ser dito que as ocorrências se devem a negligência ou ao simples prazer de ver o fogo! Que a maioria dos incendiários são pessoas mentalmente diminuídas. A tragédia não acontece por acaso.

Reflectimos em alguns exemplos:

1 - O combate aéreo aos incêndios em Portugal é TOTALMENTE concessionado a empresas privadas e pagas por hora de voo, noutros países europeus da orla mediterrânica isto não se passa;

2 - Testemunhos populares sobre o início de incêndios em várias frentes imediatamente após a passagem de aeronaves continuam sem investigação, ou sem mostra de resultados, após tantos anos de acusações de ocorrências semelhantes;

3 - Estabelecimento de prioridades, pelo Estado, de meios aéreos como aviões Cannadair e helicópteros que em determinadas situações são os únicos meios com eficácia. Prioridades - há bem pouco tempo atrás o Sr. Dr. Paulo Portas deu prioridade à compra de submarinos no valor de 700 milhões de euros;

4 - A deficiente gestão dos poucos recursos materiais e humanos que temos e não são rentabilizados, pilotos da Força Aérea formados para combater incêndios e passam o Verão desocupados nos quartéis? As Forças Armadas Portuguesas encomendaram novos helicópteros sem estarem adaptados ao combate a incêndios;

5 - A maior parte da madeira usada pelas celuloses para produzir pasta de papel pode ser utilizada após a passagem do fogo sem grandes perdas de qualidade. Mas os madeireiros pagam um terço do valor aos produtores florestais;

6 - Se as autoridades não conhecem muitos jornalistas podem indicar terrenos onde se registaram incêndios há poucos anos e que já estão urbanizados ou em vias de o ser, contra o que diz a lei;

7 - Aos órgãos de informação chegam informações anónimas do seguinte teor: "enquanto houver reservas de caça associativa e turística em Portugal, o país vai continuar a arder". Será que não querem pagar para caçar nestes espaços e pretendem o regresso ao regime livre?

8 - Comenta-se que Norte e Centro do país ainda continua a haver incêndios provocados para que nas primeiras chuvas os rebentos da vegetação sejam mais tenros e atractivos para os rebanhos;

9 - A transmissão de muitas imagens, verdadeiros espectáculos televisivos. Quanto mais imagens espectáculo vêem no ecrã, mais os pirómanos se sentem motivados a praticar o crime;

10 - Em Portugal parece haver o objectivo de destruir a floresta porque há quem beneficie com este tipo de crime, mas todos somos responsáveis.

Quem manda, o poder político, deve:

a) Assumir directamente o combate aéreo aos incêndios de forma atempada e adquirir os recursos materiais necessários e formar os recursos humanos;

b) Distribuir as forças militares pela floresta, durante todo o Verão, em acções de vigilância permanente, o que tem acontecido são acções pontuais de vigilância e combate às chamas;

c) Alterar a moldura penal dos crimes de fogo posto, agravando substancialmente as penas, e investigar e punir efectivamente todos infractores e tratar os pirómanos diminuídos mentais;

d) Proibir rigorosamente todas as construções em zona ardida durante os anos previstos na lei;

e) Incentivar a limpeza de matas, promovendo o valor dos resíduos, mato e lenha, criando centrais térmicas adaptadas ao uso deste tipo de combustível, não permitir a plantação do eucalipto, apenas prejudica, tornar coerciva a negação destas práticas e não subsidiar apenas porque ardeu;

f) Continuar a apoiar as corporações de bombeiros por todos os meios;

g) Desmontar interesses que por ventura se verifiquem.

Com uma noção clara das causas da tragédia e com medidas simples mais eficazes, será possível acreditar que dentro de 20 anos a paisagem portuguesa ainda não será igual à do Norte de África. Se tudo continuar como está, as semelhanças físicas com Marrocos serão inevitáveis a breve prazo.
PS.este texto está baseado num escrito de José Gmes Ferreira (Jornalista da SIC).

Jacinto Figueiredo, 25/08/2005.

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