domingo, fevereiro 05, 2006

Viseu, Olhares Cruzados sobre a Cultura/Teatro Viriato.

Foi moderadora do debate a Dr.ª Dalila Rodrigues, Directora do Museu Grão Vasco que reabre em Maio/04 com outra dinâmica que os tempos modernos aconselham, assim esperamos.

Os conferencistas, Dr. Ricardo Pais e Arquitecto Gonçalo Byrne, no dia 31/3/04 apresentaram a sua visão sobre o tema proposto pela organização do evento, CMV e Jornal Público, “Que Dinâmica para além do Teatro Viriato”.

Ambos têm fortes ligações a Viseu. Byrne, residiu muitos anos em canas de Senhorim, traçou a radial de S. Tiago e Cava de Viriato. Ricardo Pais viveu em Torredeita, esteve ligado ao arranque do Teatro Viriato onde desenvolveu alguns projectos de grande qualidade.

O Sr. Arquitecto orientou a sua intervenção pela vertente mais científica da cultura e a evolução histórico/cultural da cidade referindo-se a alguns dos monumentos de Viseu.

Questionou sobre o que é cultura, hoje? Cidade como entidade promotora de cultura. A polis, vista como cidade aberta, deve ter actividades de produção de cultura.

O Património monumental e artístico é riquíssimo, a começar pela Sé que data dos finais do séc. XIII e deveu-se a uma iniciativa do Bispo D. Egas, em pleno reinado de D. Dinis. O edifício actual é dos sécs. XIII-XIV, estruturalmente Dinosiano. A fachada principal, flanqueada por duas possantes torres, uma românico-gótica, a outra do séc. XVII, substitui a frontaria manuelina de D. Diogo Ortiz de Vilhegas, que um forte temporal fez desmoronar em Fevereiro de 1635 (Revista Monumentos, n.º 13).

A abóbada de cobertura - a célebre abóbada de nós - foi terminada em 1513. Todos os retábulos, de madeira entalhada e dourada pertencem à 1.ª metade do séc. XVIII, excepto o do Coração de Jesus, no topo do transepto.

A imagem em pedra de Ançã, de N.ª S.ª do Altar-Mor, padroeira da Catedral, atribuída à 1.ª metade do séc. XVI, é considerada uma das mais belas imagens góticas do País, e as imagens de madeira estufada e dourada de S. João e S. Pedro, dos altares colaterais são do séc. XVIII, da oficina de Claude de Laprade.

A Sacristia, de 1574 (D. Jorge de Ataíde), notável pelo seu tecto de grotescos, foi reformada e azulejada no séc. XVII pelo Bispo D. João de Melo.

O modelo do claustro, e nisto não parece estar a mínima dúvida, dada a formação do encomendante, eleito por D. Miguel da Silva é o 1.º ex. do renascimento por influência do bispo que tinha estado em Roma, bem como a fonte de S.ta Cristina.

O claustro tem doze colunas isentas e quatro cantos com duas colunas adossadas. As colunas pousam num murete contínuo. A base das colunas não apresenta um filete na transição entre o toro e a escócia. O fuste, com seis módulos de altura, referencia a coluna à ordem toscana. O capitel apresenta elementos característicos da ordem compósitos.

Museu de Grão Vasco, este edifício nasceu como resposta, não muito solícita, dos responsáveis pela diocese a uma determinação expressa no Decreto promulgado na 23.ª Sessão do Concílio de Trento, em 15 de Julho de 1563.

Para Director deste Museu, tutelado pela autarquia, o Presidente da Câmara Municipal de Viseu convida o Capitão Francisco António de Almeida Moreira que deu nome a um outro museu no Soar de Cima, (junto ao Rossio).

A pintura de Vasco Fernandes “Grão Vasco” que lhe mereceu e justificou a escolha para patrono, constitui-se como imagem de marca deste museu. No terceiro piso, a pintura de “Grão Vasco” em majestosos quadros como: Anunciação da Virgem, óleo sobre madeira; S. Pedro e baptismo de Cristo ou o Calvário; o Pentecostes e S. Sebastião, etc.

Este museu encontra-se em fase de remodelação a fim de se ajustar aos tempos modernos, encontrando-se o seu recheio exposto na ala norte da Igreja da Misericórdia (em frente à Sé).

Byrne afirmou que, contemporaneamente, a cultura tem que ser viva ou o não é cultura.

Tem como noção de cultura que não são objectos, quadros, etc., mas sim o que está na sua génese como um conjunto de valores, conceitos, etc. que um individuo herda, interpreta e lhe acrescenta algo, sempre relacionado com o seu tempo.

Hoje, confunde-se cultura com entretenimento, este ligado ao consumo e laser não desencadeando criatividade o que os diferencia. Cultura e tradição confundem-se com frequência. Não há cultura se não houver passado.

O Dr. Ricardo Pais colocou a sua tónica em discurso mais prático/concreto ou não fosse um Homem de artes e cultura. Referiu que falar de cultura é pensar na cidade como lugar de criação. Há que estar atento aos efeitos da cultura. Generalizou-se que a cultura serve para tudo (sardinhas assadas com pão de ló, etc.), mas deve gerar objectos de arte e tudo que se acrescenta com gosto, nomeadamente, beleza.

Os Teatros são lugares recônditos que guardam os melhores segredos das cidades. O Teatro Viriato não tinha grandes tradições, passaram por ele algumas pessoas ficando sem grande historial.

Viseu terá que ter, necessariamente outro teatro, maior e com outra arquitectura porque se a arte não é para todos não é arte.

Debate: Luís Calheiros quis saber que dinâmica há para além do teatro Viriato? Foram surgindo as respostas.

Vítor Esteves questionou se consideram que para além da divulgação é necessária formação e de que modo? Ricardo Pais afirmou que Viseu é lugar privilegiado para formação. O Sr. Arquitecto respondeu com outra questão; porque há agora dois Ministérios um da Educação outro da Cultura sendo este visto como parente pobre? Os cidadãos têm direito à cultura. Que o óptimo é o melhor amigo do bom, ao contrário do que se tem dito. O museu deve ser visto a partir própria cidade. A Dr. Dalila acrescentou que o museu, estruturado e gerido de forma moderna, futuramente, tem espaço para formação, bem como o Teatro Viriato.

O Dr. António Vicente reclamou a criação de um Museu Municipal e qual o papel das Associações Urbanas e Rurais ou das Instituições de cultura e recreio, pois se não existisse a ACERT, Tondela não era conhecida. Ricardo Pais acha que não existe esta dicotomia urbano/rural, o folclore ou cultura popular têm tendência a desaparecer, o recreativo nada tem a ver com cultural, recreativo tem ressonância com Salazar, FNAT (Federação Nacional e Alegria no Trabalho), recordam-se?

Na Irlanda não há televisão às quartas-feiras para que as pessoas possam falar umas com as outras e olhar para o mundo que hoje não se olha!

Miguel Horta quis saber se a leitura como cultura e cine clube, etc. fazem parte desta dinâmica. Com a criação das GAMs deve haver solidariedade. Byrne considera que Viseu é uma cidade contemporânea, pois num raio de ½ hora residem mais de 250.000 pessoas.

O Dr. José Manuel Campos deu os parabéns à CMV por ter feito algo de positivo, referiu o caminho da cultura como a Biblioteca, mas que não há política editorial, clássicos e outros que possam ser reeditados, recordando um escritor de Tondela, Tomáz Ribeiro? Não se edita boletim municipal como em tempos ex. Viseu Municipalis, era melhor que nada. Devemos ir mais por aqui e menos pela política do “comes e bebes”, depreendemos pela criação de confrarias com que alguns passam os seus dias, entretidos.

Carlos Castro da associação “Olho vivo”, referindo-se aos achados na rua formosa disse, ironizando, que há muralha e a maralha deve falar dela, entendemos que se tem valor deve ficar visível. A recreação passa a ser sinónimo de cultura. Recordou que um autarca, na época, via o Teatro Viriato como um elefante branco depois de edificado, que era preferível construir um pavilhão porque, neste pode fazer-se teatro e jogar basket, poucos anos depois Ricardo Pais diz justificar-se a criação de outro teatro. As voltas que o mundo dá!

Jacinto Figueiredo, 03-04-2004

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