domingo, fevereiro 05, 2006

Viseu, Reflexão de Vários Olhares cruzados.

1 - Educação: O Sr. Dr. Ruas, pessoa que considero, reafirmou que independentemente da discussão ou posições, a sua se mantinha pela defesa intransigente da criação da U.P. em Viseu.

Questões positivas para a criação da UPV: ex. crescimento do pré-escolar. Porque o primeiro-ministro prometeu e todos os partidos são favoráveis, situação que só depois de 1995 o PSD entendeu que era importante a criação da UP em Viseu. Poderá funcionar como agente revitalizador das áreas periféricas do interior, alem de favorecer a fixação da população jovem local, promovendo mesmo algum saldo migratório. Esta é a conclusão da comissão Municipal; que a opção de criar ensino universitário público em Viseu é marcadamente politica

Partindo do princípio que a U.P. será criada, qual o modelo/tipo pretendido Viseu? 1) Ensino universitário no seio do IPV? 2) Uma nova universidade de raiz? 3) Uma universidade politécnica? 4) Universidade bipolar? (ex. Algarve).

Deverá ser um projecto novo, distinto, de terceira geração, faseada, e uma estrela de rede de projectos nacionais e internacionais. Deverá apostar na investigação, pós-graduações, mestrados e doutoramentos e não só.

Deverá conter alguns cursos, ex. área da saúde; Terapeutas de fala, Fisioterapeutas, Terapeutas ocupacionais, Radiologistas, Analistas, Veterinária e Farmácia para que o corporativismo deste sector não limite a sua abertura a quem estiver habilitado. Quantidade não é sinónimo de má qualidade, de qualidade são os altos lucros das farmácias, são os poços de petróleo portugueses? O direito; advogados, solicitadores, arquivistas; Eng.º Agrícolas…, etc. Deve ser integrado neste projecto a faculdade de medicina de Viseu, pois não há razão para que esta saia do âmbito público/estatal. Mesmo que a U. Católica de Viseu ameace fechar. Pensamos mesmo que fechará em Viseu, reforçando ou abrindo em Lisboa ou arredores, ex: Sintra como preferência do Sr. Dr. Braga da Cruz, onde os parentes dos Srs. Deputados, dos Srs. Ministros e outros importantes precisam de emprego. Muitos esquecem-se que foi do interior, das províncias, que partiram para conseguir melhores empregos? O Sr. Reitor disse que Viseu não tem espaço para uma UP, mas tem para os privados abrirem os cursos que querem? Cuidado, pois os privados podem fechar quando quiserem ou não lhes interessar e, a propina de um curso de papel e lápis custa 270€ por mês, não acham um exagero sendo Instituições sem fins lucrativos? Ou é para investir em Africa? E os cursos tecnológicos?

A U. de Aveiro era para ser criada em Viseu, mas…o “lobi” de Aveiro foi mais forte. Uma no Porto outra em Coimbra, bons transportes e acessibilidades, curta distância a separa-las, mas os políticos decidiram, erradamente para Aveiro. Talvez, se fosse presidente da Câmara nesse tempo, um Beirão como o Dr. Ruas isto não tivesse acontecido, mas também deixou fugir a Faculdade de medicina para Braga, erro crasso do PS, porque a Covilhã tinha direito a ela. Esperamos que este governo PSD/PP não guarde para o fim da legislatura para quem vier a seguir, se for diferente, anular mais uma vez a decisão como foi o caso do então criado, pelo governo PS, Instituto Universitário de Viseu.

Os politécnicos não tenham medo se reduzirem o número, excessivo, de alunos por turma, pois em cursos ajustados e motivadores sempre aparecem alunos. Em Viseu, como noutras cidades, pode coexistir IPV e UP, ninguém perde importância. Estamos gratos, ao que foi meu professor, Doutor João Pedro de Barros pelo empenho por Viseu. Esta situação existe noutras cidades. Não é justo nem correcto que os potenciais alunos de Viseu sejam “obrigados” a desvincularem-se da sua região, famílias e amigos para engordar o rendimento de muitos que vivem, quase, à custa das rendas altíssimas de casas ou quartos alugados. Esperamos que não haja mais escolas, de qualquer nível de ensino; privado, estatal ou profissional que aceite matrículas pela ordem de chegada dos alunos para o espectáculo mediático, nem antes de 25 de Abril de 1974 isto se passava. Deve ser através de listas graduadas.

2 - GAM Viseu: nesta altura está criada e com mais de 350.000 hab., julgamos ser uma divisão administrativa mais correcta, porque partiu das bases e com o envolvimento das pessoas. Porque os governos devem governar com as pessoas e não para as pessoas, mas este tem feito quase sempre, erradamente, governar para as pessoas. Haverá mais capacidade reivindicativa, solidariedade inter e inta-regiões. Se a lógica é desconcentrar então as GAM têm mais capacidade reivindicativa que as Comunidades Urbanas ou Intermunicipais?

José Junqueiro, deputado na A. da República, com muita responsabilidade politica a este respeito, questionou: não havendo regiões como pode Portugal relacionar-se em Espanha? Sendo esta regionalizada para por ex. antecipar o TGV? Mas será que este passa e vai ter paragem em Viseu? A CP em Viseu encerrou todas as ligações, mas no litoral remodelou com alfas e pendulares. E a ligação de Nelas ou Mangualde a Viseu por Via-férrea é para quando? Foi um erro político acabar, pois devia ser requalificar ligando a linha da beira alta a Aveiro, passando por Viseu só se comenta em tempo de eleições.

3 - Cultura/Recreio: A polis, vista como cidade aberta, deve ter actividades de produção de cultura. Byrne afirmou que, contemporaneamente, a cultura tem que ser viva ou o não é cultura. O Dr. Ricardo Pais colocou a sua tónica em discurso mais prático/concreto. Referiu que falar de cultura é pensar na cidade como lugar de criação. Devemos estar atento aos efeitos da cultura. Generalizou-se que a cultura serve para tudo (sardinhas assadas com pão de ló, etc.), mas deve gerar objectos de arte e tudo que se acrescenta com gosto, nomeadamente, beleza. Os Teatros são lugares recônditos que guardam os melhores segredos das cidades. O Teatro Viriato não tinha grandes tradições, passaram por ele algumas pessoas ficando sem grande historial. Viseu terá que ter, necessariamente outro teatro, maior e com outra arquitectura porque se a arte não é para todos não é arte. O museu Grão Vasco deve ser visto a partir própria cidade. O museu, estruturado e gerido de forma moderna, futuramente, tem espaço para formação, bem como o Teatro Viriato.

Na Irlanda não há televisão às quartas-feiras para que as pessoas possam falar umas com as outras e olhar para o mundo que hoje não se olha! Devemos ir mais pelas reedições de obras como Tomáz Ribeiro ou edição de revista “Municipallis”, etc., como no p.p. e, menos pela política do “comes e bebes”. Um autarca, quando o espaço era ainda armazém de mercearias, via o Teatro Viriato como um elefante branco depois de requalificado, que era preferível construir um pavilhão como o multiuso já construído, porque neste pode fazer-se teatro e jogar Basketball…, mentalidades. Poucos anos depois Ricardo Pais diz justificar-se a criação de outro teatro. Outro esforço inglório foi o projecto do Euro/04, ficou tudo à beira mar implantado!

4 - Desertificação e Identidade Beirã: Desertificação, alguns não estão de acordo, mas começam a aceitar e isto significa: tornar deserto; despovoar; fugir; desistir de um recurso ou seja deixar o seu ambiente, família, amigos e tudo que envolve a pessoa no seu ambiente primitivo. A globalização, justifica tudo, será responsável?

Beirão, natural ou habitante de uma das Beiras, províncias portuguesas em que o seu auto conceito, seu “EU” é o de Homem de honra, de palavra, trabalhador ou labutador utilizando a força muscular com ferramentas antigas para conseguir o sustento. Vivia em economia de subsistência. O lazer era raro; feiras, romarias e pouco mais. O Dr. Neto afirmou que em Viseu não se criaram condições para atrair os jovens. Há um choque geracional que faz com que os mais novos repudiem atitudes dos mais velhos. Deve haver formação para que os mais velhos entendam os mais novos.

O Dr. Inês Vaz insistiu, pretendo saber se existe ou não identidade Beirã? Viseu cresceu 16%. Penso que foi sim à custa das Aldeias. Homem Cardoso entende que a desertificação do interior é um problema global. O Brasil está a arrastar-se para a praia esta atracção pelo mar é indissociável do Português. Hoje não se é de lado nenhum, tudo passa muito de pressa.

O Sr. Eng.º Esteves Correia da A. Municipal de Viseu disse que falta uma política de desenvolvimento rural e, de que tipo? Viseu aumentou, mas no centro da cidade não vive quase ninguém.

Homem Cardoso afirmou que o Estado Português tem contribuído para “enterrar” a agricultura através da confusão dos subsídios.

Consideramos não ter sido debatido o mais importante; porque nos grandes centros há pessoas a mais e no interior há pessoas a menos?

Julgamos que foi por falta de investimento público na educação Universitária e outros níveis de ensino, erros políticos em decisões chave para o desenvolvimento, discriminação positiva, falta de solidariedade em termos de distribuição de riqueza nacional, cultural, recreativa, etc. Lisboa tem o mais alto nível de vida do País, constroem-se estradas por cima e à beira de casas onde habitam “Pessoas”, parece uma selva. Concentra todo o poder possível. São estes e outros factores que levaram e ainda acontece hoje à debandada dos Beirões e outros para Lisboa e grandes centros. O País cresceu, mas em desarmonia regional, prejudicando e continua a prejudicar as regiões do interior que são as mais desfavorecidas a todos os níveis. Os governos prometem, mas o maior número de votos está nos grandes centros e todos, uns mais que outros, anseiam pelo poder e não cumprem o que deviam fazer.

5 - Comercio/Serviços e ou Indústria?

Viseu não foi capaz de captar grandes indústrias. Devem os responsáveis; políticos, privados e públicos, reflectirem se Viseu tem agido da forma mais correcta? O poder económico está em quem tem capacidade de conciliar a produção/conhecimento. As economias modernas são as que melhor respondem. Substituir o trabalho directo por indirecto e do menos por mais qualificado. Reduzir o tempo de chegada do produto ao mercado é fundamental. Sem Comercio, serviços e indústria não pode haver desenvolvimento sustentado.

Devemos apostar nas competências e não em certificação de qualquer nível de ensino. Não vivemos em tempos de recursos genéricos, pois nas sociedades modernas as necessidades são muito diferenciadas. Portugal cresceu extensivamente com os fundos estruturais da CE e, criou um conjunto de infra-estruturas fundamentais para o desenvolvimento, Viseu deve agarrar estas oportunidades únicas e conseguir algumas macro industrias. O Cavaquismo, déc. 90, retirou quase todos os serviços públicos de Viseu. Foi um grande golpe para o interior.

Portugal não tem futuro se fizer nos próximos dez anos o que fez nos últimos dez, ou seja, não utilizar todos os fundos, investir no que não é produtivo, que gera postos de trabalho e modernização.

Turismo, serviços às famílias como dinâmicas ao reforço de infra-estruturas e, captando o que se faz bem. Quem tem 65 anos tem ainda muito tempo para viver com qualidade, será uma boa aposta através de lares para a 3.ª idade?

O nosso sucesso económico passa muito pela relação que conseguirmos com os nossos vizinhos Espanhóis. A Europa tem de mudar o seu modelo social para não comprometer o futuro. O nosso modelo de desenvolvimento esgotou-se é imperioso, isto não se faz por decreto, o caminho é o de mitigar algo que foi feito. Devemos apostar na formação distintiva em varias áreas específicas. António Guterres apostou, e bem, numa rede de cidades intermédias como Viseu com cerca de 100.000 hab., mas no quadro ibérico as cidades intermédias têm cerca de 250.000 habitantes. Considero-o um Homem sério, mas não teve artimanha para controlar o défice e abandonou o cargo. Agora que já passou algum tempo, errou com as negociatas politicas, não devia deixar o poder para o qual tinha sido legitimamente eleito. Ao PS falta muito trabalho de casa e agressividade politica.

Dr. Mateus finalizou o debate enfatizando que no Canadá a maior parte dos desempregados são licenciados. Preferimos desempregados com um curso que sem curso nenhum, entendemos nós. Alertou que para atrair pessoas para Viseu têm de apostar na segurança, serviços, saúde, conforto de habitação, animação sócio-cultural e outros, são condições fundamentais. Melhorar agora sem ser à custa do futuro isso é sustentabilidade.

Jacinto Figueiredo, 24/04/04

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