História, verídica, antes de 25 de Abril/74
Podia começar, era uma vez…, como quase todas as histórias, mas esta preferível iniciar assim:
Forçado, mas sem perdão!
Depois de concluída a 4.ª classe do ensino primário, com exame e pouco mais de 10 anos, devido aimpossibilidades económicas e com apenas 12 anos era quase normal os rapazes nestas condições ingressarem no mundo do trabalho, duro e pouco limpo, serralheiro de construção civil, quando apenas era permitido com 14 anos idade para estudar e trabalhar, legalmente, foi o caso.
Se chegava alguém desconhecido tínhamos que fugir pela porta do fundo é que podia ser algum fiscal da Seg. Social e haver penalização!
Enveredei então por outro percurso escolar pensando em mais saber e melhor futuro e, assim foi até à conclusão do curso de “aperfeiçoamento de serralheiros”, nocturno, posteriormente designado de "formação de serralheiros" na ex. Escola Industrial e Comercial de Viseu , hoje designada de Escola Secundária Emídio Navarro Viseu.
A Escola obrigava à apresentação, no acto de cada matrícula, da prova da entidade patronal em como trabalhava de facto.
O 1.º ano (de seis) do curso teve início em 1968 (éramos 28, terminaram, em 1974, sem reprovarapenas 3 alunos, curiosamente todos somos professores a leccionar ET (Educação Tecnológica ou Mecanotécnia)! Jacinto Figueiredo e os meus amigos; Lúcio Esteves e José A. Esteves.
As turmas eram separadas, em termos de sexos, claro, rapazes e raparigas, comercio e indústria,nas antigas Escolas Industriais e Comerciais que hoje tanta falta fazem para ensinar os alunos a saber fazer.
Os recreios eram barreirados com muros ou arbustos para que não se aproximassem rapazes e raparigas.
No interior da escola, ao fundo dos corredores espaçosos haviam e ainda existem, mas com outra finalidade, portas envidraçadas com molas para que a barreira se mantivesse, permanentemente.
Um dia, em brincadeiras próprias da irreverência da juventude, um colega empurrou para o lado das meninas, sendo ultrapassada a barreira, a funcionária que por acaso ainda está ao serviço na mesma escola e eu também mas, como professor, apercebendo-se ela da ousadia, ainda que forçada, do espaço feminino, pegou-me por uma orelha e arrastou-me para o lado dos rapazes, não foi agradável, senti vexame…
Quando nos cruzamos sempre me vem à lembrança tal cena que hoje recordo com tristeza, mas sem ressentimentos.
Jacinto Figueiredo, Abril/04
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