Economia 21 de Janeiro 2015
Comboio
regressa a Viseu
O comboio vai voltar a circular no Vale do Vouga, fazendo a ligação entre o
Porto de Aveiro, Viseu e Vila Franca das Naves, onde encaixará na Linha da
Beira Alta, seguindo depois para Espanha. A decisão está tomada e se a solução
encontrada ficar abaixo dos 1,4 mil milhões de euros será uma realidade. O Governo
está a negociar a solução com a União Europeia (UE) e impôs silêncio às
associações empresariais.
A ligação que o Governo negoceia com a UE retoma o projecto de 2009, do
troço designado Lote 4A - entre Aveiro e Celorico da Beira, acordado com
Espanha. Será em bitola europeia e ligará o noroeste peninsular, através da
ligação da Linha do Norte a Salamanca, incluído nas redes transeuropeias. O atravessamento
da fronteira a norte de Vilar Formoso possibilita a ligação em pouco mais de
130 km, o que encaixa nos orçamentos previsíveis.
O troço terá uma extensão de 110 km, com passagem por Viseu. O custo por
quilómetro aponta para 10 milhões de euros e pressupõe 60 quilómetros de via
única. Quanto ao financiamento, o valor final está ainda por definir. Um estudo
do Grupo de Trabalho Centro e Norte, que reúne as associações empresariais de
Portugal, Minho e Centro, aponta para um investimento de 1,9 mil milhões de
euros, um valor “incomportável porque equivale ao dinheiro que o país dispõe
para o investimento total em ferrovia”, sustenta um responsável político ouvido
pelo SOL.
Quebrar o isolamento
Todavia, lembra que o estudo foi feito com base numa via dupla, quando se
prevê agora uma via única, capaz de garantir velocidades até 250 km em bitola
europeia, a que acresce um ramal de ligação a Viseu, de 5 km, e outro entre
Vila Franca das Naves e a Plataforma Logística da Guarda. Essa solução fará
Portugal “honrar os compromissos e dividir as verbas disponíveis entre a
ligação Aveiro-Salamanca e Sines-Badajoz”, acrescenta.
Os responsáveis políticos ouvidos pelo SOL consideram que a nova ligação é
uma exigência para que o noroeste peninsular não fique isolado. Essa é a
convicção do presidente da Câmara de Viseu, que num encontro com jornalistas
prometeu que a cidade “irá voltar a dispor de ferrovia”. Apesar das
insistências, Almeida Henriques pouco mais adianta, mas assume que “será uma
evidência a curto prazo”. Também o autarca da Guarda assume a “vontade política
para a construção, com financiamento europeu”. Álvaro Amaro pede “um
compromisso entre os partidos do arco do Governo para que o país não marque
passo”, numa solução que permitirá “servir os portos de Leixões, Aveiro e
Figueira da Foz e quebrar o isolamento do país em ferrovia”.
Esta ligação tem sido reclamada pelos franceses da PSA, que têm duas
fábricas de automóveis Peugeot Citröen, em Vigo e Mangualde. Carlos Tavares, o
presidente do grupo, tem insistido que a ligação Vigo-Mangualde permitiria
reduzir os custos de operação em 20%, ajudando à manutenção da fábrica em
Mangualde. Também a mina de ferro de Torre de Moncorvo tem um estudo que aponta
para a viabilidade apenas com a exportação do minério, a partir de Vila Franca
das Naves e dali para o Porto de Aveiro.
Nas associações empresariais de Portugal e do Minho ninguém assume mas, sob
anonimato, os dirigentes reconhecem a existência de negociações. O primeiro
sinal de que o anúncio da nova construção está por um fio foi sentido em Cacia,
nos arredores de Aveiro, uma zona industrial onde a procura por terrenos
disparou.
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