– Com o devido respeito e carinho.
A adolescência é uma extraordinária etapa na vida de todas as pessoas. É nela que a pessoa descobre a sua identidade e define a sua personalidade. Nesse processo, manifesta-se uma crise, na qual se reformulam os valores adquiridos na infância e se assimilam numa nova estrutura mais madura. É uma época de imaturidade em busca de maturidade. No adolescente, nada é estável nem definitivo, porque se encontra numa época de transição.
Daniel Sampaio defendeu a criação de gabinetes de apoio aos adolescentes e às suas famílias que funcionem em escolas (…). Esclarece que 85% dos problemas dos adolescentes estão ligados ao desenvolvimento e não necessitam de intervenção da saúde mental. Autor de várias obras ligadas à problemática da adolescência defende, contudo, que é nocivo que os progenitores se agarrem a modelos teóricos para lidar com os filhos. "Se alguém aplicar um modelo descrito num livro na interacção com os adolescentes, esse livro deve ser deitado para o lixo. A grande pecha do século XX foi a transmissão aos pais de modelos teóricos, que não os ajudam na interacção com os filhos e que os transformaram em "psicólogos e psiquiatras de bolso ". É mais útil analisar situações práticas do quotidiano, fazendo uso da intuição e da espontaneidade e trocando impressões com outros pais", conhecimento empírico ou psicologia “caseira”.
Os primeiros três anos de vida são fundamentais, sendo que esse apoio deve ser depois retomado na fase da adolescência. Afirma que, sendo o conceito de adolescência algo muito recente (remonta à segunda metade do século XIX), começou por ser entendido como um "período de crise e de enorme turbulência interior, com reflexos na família". Na primeira metade do século XX, psicanalistas como Freud começam a encarar a adolescência "como algo perturbador, inacessível aos adultos, que necessita de cuidados psicológicos e psiquiátricos."
A soma de todos estes factores contribuiu para que hoje em dia muitos vejam a adolescência como algo tenebroso. "Os pais chegam a perguntar quais são os sintomas da adolescência, como se esta fosse uma doença", ironiza o especialista. "O que existe são pequenas turbulências quotidianas e episódicas, relacionadas com a fase de desenvolvimento que estão a passar. O caminho básico que os pais devem seguir é o da compreensão, com o devido respeito e carinho.
A adolescência decorre em períodos nos quais uma criança se transforma em adulto. Não se trata apenas de uma mudança na altura e no peso, nas capacidades mentais e na força física, mas, também, de uma grande mudança na forma de ser, de uma evolução da personalidade.
A puberdade ou adolescência inicial (11 a 14 anos): Nasce a intimidade (o despertar do próprio "eu"). Crise de crescimento físico, psíquico e maturação sexual. Conhece pela primeira vez as suas limitações e fraquezas, e sente-se indefeso perante elas. Desequilíbrio nas emoções, que se reflecte na sensibilidade exagerada e na irritabilidade de carácter. "Não sintoniza" com o mundo dos adultos. Refugia-se no isolamento ou no grupo de companheiros de estudo, ou integra-se num grupo de amigos.
Ajudas positivas: Conhecer bem os seus pontos fortes, as suas fraquezas, amizades, etc. Revelar-lhe como é, o que lhe está a suceder e que sentidos têm as mudanças que está a sofrer. Ajudá-lo a esclarecer o que é a autêntica liberdade, distinguindo-a da libertinagem. Desenvolver a virtude da fortaleza, para que possa fazer por si mesmo esforços pessoais. Fomentar a flexibilidade nas relações sociais. Sugerir actividades que lhe permitam estar ocupado; reflexão das influências negativas do ambiente, especialmente nas que derivam da manipulação publicitária e nas que motivam condutas sexuais desordenadas.
A adolescência média (13 a 17 anos): Do despertar do "eu" passa-se à descoberta consciente do "eu", ou da própria intimidade. A introversão tem agora lugar, pois o adolescente médio precisa de viver dentro de si mesmo. Aparece a necessidade de amar. Costumam ter imensas amizades. Surge o "primeiro amor". A timidez é característica desta fase. Medo da opinião alheia, motivado pela desconfiança em si mesmo e nos outros. Conflito interior ou da personalidade. Comportamentos negativos, de inconformismo e agressividade para com os outros. Causados pela frustração de não poderem valer-se por si mesmos.
Ajudas positivas: Guiá-los para que adaptem as suas condutas às aspirações mais nobres e íntimas que descubram dentro de si. Que saibam desmascarar as manipulações publicitárias e as do meio ambiente, especialmente as do consumismo e tudo aquilo que não lhes permita meterem-se dentro de si mesmos e reflectir. Que aprendam a procurar o silêncio, para que, sem medo, possam conhecer-se a si mesmos - a pensar e a reflectir - e descobrir as suas mais profundas aspirações e fazer propósitos com decisão. Colaborar com eles para que descubram o valor e o respeito pela intimidade. Que se esforcem por pensar e reflectir com rigor. A paciência e o amor, unidos a uma suave firmeza, são os recursos para libertar o jovem da esfera das suas impertinências; enfrentar sem violência; favorecer o diálogo.
A adolescência superior (16 a 22 anos): Começa a compreender-se e a encontrar-se a si mesmo e sente melhor a integração no mundo onde vive. Apresenta um significativo progresso na superação da timidez. É mais sereno na sua conduta. Mostra-se menos vulnerável às dificuldades; Tem maior auto domínio; É a época de tomar decisões: futuro, estudos (...). Começa a projectar a sua vida; Estabelece relações mais pessoais e profundas.
Ajudas positivas: Que aprendam a escutar e a compreender os que pensam de forma diferente da deles ou do seu pequeno grupo, mas que não abdiquem das suas ideias ou princípios. Que reflictam constantemente sobre os pontos de vista que são contrários aos seus, sabendo interpretá-los adequadamente. "Querer é poder". Convencer de que não é possível conseguir mais se não nos propomos seriamente a isso.Jacinto Figueiredo, 10/03/05
Sem comentários:
Enviar um comentário