O fim do pesadelo
30.09.2015
7h00
O sonho da direita revelou-se o pesadelo dos
portugueses. Quatro anos depois, existe uma ampla maioria social que pode pôr
fim ao pesadelo
Em 2011, a
direita concretizou finalmente o seu velho sonho de dispor de um governo, uma
maioria e um presidente do seu quadrante político. Fê-lo cavalgando uma série
de promessas que nunca fez tenções de cumprir – e que, naturalmente, não
cumpriu.
Quatro anos
depois, os desequilíbrios macroeconómicos
estão muito pior do que há quatro anos. A dívida pública
aumentou de 108% para 130% do PIB, a dívida externa líquida de 82% para 105%. A
direita subiu ao poder prometendo ajustar os desequilíbrios macroeconómicos da
economia portuguesa, mas conseguiu apenas empobrecer o país, deprimindo a produção
e fazendo alastrar as falências e o desemprego.
Nos últimos
dias, ficámos a saber que o défice orçamental foi de -7,2% em
2014 e de -4,7% no primeiro semestre de 2015, que o défice externo regressou
assim que o travão da austeridade foi temporariamente suspenso por motivos
eleitoralistas e que a poupança das famílias caíu para o
nível mais baixo de sempre. Défice externo, défice público,
endividamento, emigração e desemprego generalizados: não houve qualquer
ajustamento, apenas empobrecimento, agora momentaneamente interrompido por
motivos eleitorais.
Mas a parte
mais nefasta da governação da direita não foi sequer o desastroso desempenho
macroecónomico numa legislatura em que a emigração regressou aos níveis da
década de 1960 e em que o investimento regrediu 30 anos. Pior – muito pior - do
que isso foi a forma como este governo transformou Portugal num país muito mais
desigual e muito menos decente para benefício de uns poucos.
Como
repercutiu sobre os mais pobres e a classe média a maior parte dos impactos da
crise ao mesmo tempo que o número de milionários não cessava de aumentar.
Como alterou
o IRS, reduzindo o número de escalões, de modo a torná-lo deliberadamente menos
progressivo e mais propenso ao aumento da desigualdade.
Como colocou
a generalidade dos trabalhadores a trabalhar mais horas por dia e mais dias por
ano a troco de salários mais baixos, de modo a transferir rendimentos para os
detentores de rendimentos de capital.
Como cortou pensões
e retirou apoios sociais aos mais pobres, aos desempregados, aos reformados e
aos pensionistas.
Como atacou
e esvaziou a saúde e a educação públicas, comprometendo o presente e o futuro
dos portugueses.
Como
aumentou a carga fiscal de forma inícua e injusta, agravando brutalmente o IRS
e o IVA ao mesmo tempo que reduzia o IRC.
Como
privatizou quase tudo o que havia para privatizar – resta a Caixa Geral de
Depósitos e pouco mais – por montantes irrisórios, fazendo com que os
portugueses sejam adicionalmente penalizados enquanto consumidores em resultado
dos aumentos dos preços de bens e serviços essenciais.
Felizmente,
existe hoje uma ampla maioria social – de dois terços, a fazer fé nas sondagens
– que se opõe a que o país continue a ser devastado desta forma em benefício
das elites. É fundamental que esta maioria social se mobilize no próximo
Domingo, contribuindo para que o actual governo se transforme rapidamente numa
lamentável recordação.
O sonho da
direita revelou-se o pesadelo da maioria dos portugueses. Quatro anos depois,
está nas mãos desta mesma maioria pôr fim ao pesadelo.
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