sábado, outubro 10, 2015

Marcelo: de derrota em derrota até à vitória final?


  
Marcelo: de derrota em derrota até à vitória final?
por João Pedro HenriquesHoje2 comentários

A maior estrela do comentarismo político nacional deu-se sempre mal quando meteu as mãos na massa da política ativa.

Uma personalidade "heteronímica". Numa entrevista ao DN há uns meses, foi assim que Helena Roseta definiu Marcelo Rebelo de Sousa - os dois conhecem-se há décadas, fizeram parte do núcleo inicial de militantes que ajudaram o então PPD a erguer-se por esse país fora.
Dito de outra forma: Marcelo não é uma pessoa, são várias: o comentador político que é um sucesso de audiências na TV, o jornalista que vibra com cachas e que no Expresso escrevia mais do que um texto ao mesmo tempo e assinava com dezenas de pseudónimos, o católico praticante conservador nos costumes, o professor catedrático de Direito, o jurisconsulto que ganha muitos milhares a dar pareceres, o médico frustrado e farmacêutico amador hipocondríaco que conhece de cor e salteado as bulas de dezenas de medicamentos, o brincalhão que adora pregar partidas aos amigos, o desportista (artes marciais, body board, mergulhos no Guincho faça chuva ou faça sol), o benemérito com militância em múltiplas instituições sociais, o queque de Cascais filho de boas famílias (o seu pai foi uma figura política relevante no Estado Novo) e amigo de casa de Ricardo Salgado que gosta de ir à Festa do Avante! ver os comunistas no seu habitat natural, o hiperativo, o homem que dorme quatro/cinco horas por noite - e que ontem, pelas seis da manhã, conforme noticiou o Expresso, avisou Passos Coelho por sms de que iria avançar ao fim da tarde, como fez.
Se Marcelo Rebelo de Sousa vencer as presidenciais, uma multidão de marcelos ocupará o Palácio de Belém. Helena Roseta dizia nessa entrevista ao DN que esta era precisamente a razão pela qual Marcelo não tinha perfil para chefe de Estado. O próprio evidentemente não concorda.
As traquinices que Marcelo fez ao longo da vida são tantas que já constituem uma espécie de grande mito urbano da política lusa. Há tempos o Expresso, jornal que o viu nascer para o jornalismo em 1973, elencou as principais. Parece que não se confirma a história segundo a qual queria tanto lá trabalhar que entrou pela redação e enrolou um fio de um estore à volta do pescoço ameaçando enforcar-se. Confirmadíssimo está o facto de um dia ter escrito no jornal que o respetivo diretor (e dono e fundador), Francisco Pinto Balsemão, era "lelé da cuca". Escreveu mesmo, para ganhar uma aposta com uma amiga. Balsemão odiou.
Por causa destas e doutras, Marcelo foi permitindo ao longo de mais de quatro décadas de exposição pública que a sua imagem fosse a de um político-comentador maquiavélico, incapaz de guardar segredos, perito em desenhar múltiplos cenários políticos que acabam por se tornar novelos com a ponta virada para dentro, perito em preencher com ficções narrativas que não domina.


javascript:PagerSetContent(-1)(Pág.1/4)             
 http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=4826803

Sem comentários: