Trump quer dar armas aos
professores para prevenir tiroteios nas escolas
“De todas as responsabilidades que
os professores já têm, matar pessoas não deveria ser uma delas”, respondeu o
pai de um adas 20 crianças mortas na escola de Sandy Hook.
22 de
Fevereiro de 2018, 1:42
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Trump
iniciou o encontro com uma oração pelas vítimas do ataque LUSA/SHAWN THEW
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Donald Trump
anunciou que está a ponderar uma proposta para fornecer armas de fogo aos
professores como medida de prevenção de tiroteios em escolas. A declaração foi
feita durante um encontro na Casa Branca entre o Presidente norte-americano e
sobreviventes, professores e familiares das vítimas do ataque na semana passada
à escola secundária Marjory Stoneman Douglas, nos arredores de Miami (Florida)
onde morreram 17 pessoas.
A ideia é
controversa e surge durante um aceso e renovado debate sobre o acesso a
armas de fogo nos Estados Unidos. Centenas de alunos e professores saíram às
ruas nesta quarta-feira para exigir maiores restrições à posse de armas
semelhantes à usada para matar os alunos, professores e funcionários na escola
da Florida.
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O chefe de
Estado americano argumenta que uma medida semelhante foi adoptada por pilotos
da aviação civil no rescaldo dos atentados de 11 de Setembro de 2001 e que teve
efeitos positivos. “Apenas resulta quando temos pessoas muito aptas para o uso
de armas, e temos muitas. Seriam professores e treinadores”, disse Trump.
No encontro,
Trump ouviu mensagens de agradecimento e apoio por parte de sobreviventes e de
familiares das vítimas, mas também foi alvo de críticas. A ausência de algumas
das figuras mais activas no mediático debate dos últimos dias também foi
assinalada: Emma González e David Hogg, dois sobreviventes do
ataque à Marjory Stoneman Douglas que têm multiplicado a sua presença na
televisão e em actos de protesto, não estiveram na Casa Branca.
Usando como
exemplo Aaron Feis, o treinador de futebol americano que se colocou como escudo
humano entre os alunos e as balas que lhes eram dirigidas no ataque da Florida,
Trump afirmou que "o treinador foi muito corajoso, suspeito que salvou
muitas vidas, mas se tivesse uma arma de fogo no cacifo quando se cruzou com o
atacante, teria disparado em direcção ao atacante e teria sido o fim daquilo”.
O Presidente
especificou que a posse de armas nas escolas dependeria de um “treino especial”
para os professores e que isso faria com que deixasse de existir uma zona livre
de armas. “Para um maníaco — porque eles são todos cobardes —, uma zona livre
de armas convida a ‘vamos a isso e vamos atacar, porque não existirão balas
dirigidas a nós’”, disse.
Numa espécie
de pequeno referendo em tempo real, Trump pediu aos que estavam na Casa Branca
que levantassem a mão caso concordassem com a proposta. A sala mostrou-se
dividida. Um dos pais verbalizou o seu cepticismo e apontou falhas à teoria e
argumentação do Presidente. Um homem que perdeu a filha em 2012 no ataque à escola
Sandy Hook - morreram 20 crianças e oito adultos - disse que a existência de
professores armados na escola não iria dissuadir atacantes suicidas, como foi o
caso do atirador de Newtown. Sublinhou ainda que, “de todas as
responsabilidades que os professores já têm, matar pessoas não deveria ser uma
delas”.
Também
Nicole Hockley, mãe de uma criança de seis anos que morreu no ataque à escola
de Sandy Hook, posicionou-se contra a proposta de “equipar” os professores com
armas. “Em vez de os armar com armas de fogo preferia que fossem armados com
conhecimentos que permitissem evitar este tipo de episódios, em primeiro
lugar”, afirmou, citando programas de segurança e de intervenção social junto
de crianças problemáticas como exemplos vitais de prevenção. “Falemos de
prevenção. Existe tanta coisa que podemos fazer e peço que se foque nisso”,
pediu ao Presidente. “É a arma, é a pessoa atrás da arma e é também ajudar a
pessoa em causa antes de chegar a esse ponto”. “Estas mortes são previsiveis.
Eu imploro-lhe: pense nos seus filhos. Não irá querer ser eu. Nenhum pai quer.”
A proposta
de Trump representaria ainda uma mudança em relação à posição assumida durante
a campanha presidencial de 2016, quando o então candidato do Partido
Republicano desmentia a acusação que lhe era feita pela opositora democrata,
Hillary Clinton, e garantia que não queria ter armas nas salas de aula.
O apelo
emotivo de um pai de uma aluna de 18 anos morta no tiroteio na Florida foi
outro dos momentos tensos do encontro desta quarta-feira. "Estou aqui
porque a minha filha não tem voz", começou por dizer Andrew Pollack, pai
de Meadow Pollack: “Foi morta na última semana. Baleada nove vezes”.
“Quantas
escolas, quantas crianças têm de ser baleadas? Isto termina aqui. Com esta
Administração e comigo”, declarou, visivelmente abalado. “O 11 de Setembro
aconteceu uma vez e fez-se o que devia ter sido feito. Isto continua a
acontecer e ninguém faz nada. Isto acaba aqui e agora, tratem disso.”
Para além da
proposta de armar os professores, Trump disse que entre as medidas em estudo
após o massacre na Florida estão “uma verificação exaustiva do historial” dos
interessados em comprar armas, “com ênfase na saúde mental”. Esta posição de
Trump surge depois do próprio ter revogado uma lei da Administração Obama que
bloqueava o acesso às armas a pessoas com problemas de saúde mental.
Na
terça-feira, Trump solicitou ao Departamento de Justiça que prepare legislação
para proibir equipamentos que permitem transformar armas legais em
metralhadoras semelhantes às utilizadas em cenários de guerra, como o caso dos bump
fire stocks (que permitem disparar mais balas em rápida sucessão) nas armas
utilizadas pelo atirador Nikolas Cruz na Florida, e pelo
autor do massacre de Las Vegas, o pior tiroteio da história norte-americana. O
processo antevê-se longo e incerto, algo que que poderia ser
evitado se a proposta fosse feita no Congresso, e não por via do
Departamento de Justiça.
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