"A
informação que temos não é a que desejamos. A informação que desejamos
não é a que precisamos. A informação que precisamos não está disponível” John Peers
CTT Para: "Memória Futura"
Francisco Lacerda é um homem especial. Só pode ser um homem especial. O actual administrador dos CTT recebeu por ano, de acordo com os últimos registos públicos, 925.404 €. Se dividir esse valor por 12, dá uma média de 77.117€ por mês. Se dividir por 14, são 66.100€ mensais. Uma quantia que oscila entre os 3 mil e os 3 mil e 500 euros por dia.Com um salário destes imaginar-se-ia que os CTT estariam na melhor fase da sua vida. Resta saber para quem. O que a generalidade das pessoas perdeu nos últimos anos com a privatização dos correios – o fim da distribuição diária, os atrasos insuportáveis no correio normal e até no registado, um aumento de 12% nos extravios, a perda de muitas centenas trabalhadores, o fecho de mais de 130 estações – foi o que outros ganharam.
Entre 2013 e 2016, foram distribuídos 274 milhões de euros em dividendos aos accionistas, dinheiro que foi retirado da empresa e que é em muito superior aos resultados líquidos desse período.Não admira pois que Lacerda ache normal ganhar quase um milhão de euros por ano; é ele quem tem conduzido a pilhagem em curso nos CTT. Os accionistas agradecem e recompensam-no bem.
Nas véspera de Natal, Lacerda escolheu um modo particular de desejar boas festas: o anúncio de um plano de reestruturação(perdão, de “transformação operacional”) que implica o despedimento de 800 pessoas (perdão, a “optimização de recursos humanos” eliminando 800 “redundâncias”) e o encerramento de 22 balcões, muitos deles essenciais para as populações (perdão, a “reorganização e optimização da rede de lojas mantendo a proximidade com o cidadão”). Este verdadeiro plano de destruição foi recebido com indignação pelas centenas de famílias que viveram o Natal no sobressalto de ficarem sem emprego e pelas populações, nomeadamente do interior, que vão ficar sem posto de correio. Os accionistas, pelo seu lado, rejubilaram. Com o anúncio de despedimentos e da degradação do serviço, os “mercados” ficaram eufóricos e as acções chegaram a subir na bolsa 10%. É esta a "racionalidade" do capitalismo financeiro. Mais claro impossível.
Desde a privatização, o que tem acontecido com os CTT pode resumir-se em três palavras: degradação, incumprimento e assalto. A degradação é o que mais penaliza os cidadãos, vítimas dos encerramentos e dos atrasos. O incumprimento sistemático das bases de concessão é evidente, já foi assinalado pelo regulador e devia motivar desde já a anulação da concessão e o resgate da empresa, porque só pode agravar-se com menos 800 trabalhadores e com uma cobertura territorial ainda mais diminuída. O assalto aos CTT é a missão de Lacerda e faz-se pela delapidação do património e pela descapitalização da empresa para benefício dos accionistas: na Europa não há nenhum exemplo de uma tão reiterada distribuiçãode dividendos acima dos lucros. A remuneração dos acionistas em 2017 foi de 133% dos lucros da empresa.
Recebi via emaisl de A. Ern FigueiredoDá para perceber? Dá, e é uma tragédia que tem de ser travada. Se achamos isto abjecto, até quando vamos permitir que continue?
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