sábado, março 13, 2010

Bolonha ainda divide opiniões na comunidade do Politécnico


O presidente do Instituto Politécnico de Viseu (IPV), Fernando Sebastião, disse ao Diário de Viseu que o Processo de Bolonha está "bem encaminhado, bem implementado e bem consolidado".
As declarações de Fernando Sebastião surgem a propósito de um estudo divulgado ontem sobre o Processo de Bolonha, dez anos depois de ter entrado em funcionamento, em que 58 por cento das universidades europeias lhe deram "nota positiva".
"Começámos a fazer a adequação de todos os cursos no ano lectivo de 2006/2007 e terminámos em 2007/2008", referiu o dirigente, sublinhando que foi criado um sistema interno de garantia de qualidade, em que é feita uma avaliação interna sobre o funcionamento dos cursos, a fim de facilitar a acreditação da qualidade pela Agência de Avaliação e Acreditação.
O IPV está a apostar também na formação dos professores, havendo já 20 por cento com grau de doutor e, nos próximos três anos, o objectivo é chegar aos 60 por cento.

"É preciso limar arestas"
Por sua vez, o presidente da Associação Académica do IPV, Rafael Guimarães, afirmou que os alunos "vêem com bons olhos" a entrada do Processo de Bolonha, mas "ainda é preciso limar muitas arestas".
Referia-se, essencialmente, ao facto de as reformas educativas terem de ser acompanhadas "com um pacote financeiro" para implementação de tecnologia mais avançada e para a "grande" formação do corpo docente, a fim de se adaptar da melhor forma a esta "nova realidade de ensino".
Para o dirigente associativo, "é impossível ter-se concentrado tanta matéria em três anos". Por isso, Rafael Guimarães alerta para uma situação que se tem vindo a verificar: "Quando há profissionais com uma licenciatura de três anos e outros com uma licenciatura de quatro, as entidades empregadoras vão preferir os que têm mais formação".
Apesar de ainda não haver muitos profissionais com uma licenciatura de três anos, reconhece que "já se nota preferência pelos que têm mais anos de formação".

Habituação ao processo desde o ensino básico
Rafael Guimarães defende que devia haver uma habituação a esta realidade desde o ensino básico e secundário. "Vemos que o ensino em Bolonha está centrado no aluno e na sua auto-formação", por isso, "temos de esquecer as aulas expositivas em que os professores despejam matéria, é preciso ter aulas mais dinâmicas centradas no aluno e na procura deste pela sua formação".
Na opinião de Fernando Sebastião, perante a crise que o país atravessa, é difícil saber quais os motivos das dificuldades em encontrar emprego. Contudo reconhece que possa haver algum caso pontual de preferência por pessoas com licenciatura de quatro anos. "O que nós aconselhamos é que acabem por tirar o mestrado e, para facilitar a vida às pessoas que já trabalham, estamos a fazer com que haja um número significativo de cursos em horário pós laborar, tanto para licenciaturas como para mestrado", frisou o presidente do IPV.
O estudo publicado pela Associação das Universidades Europeias (AUE) revela que 58 por cento das universidades europeias consideram que a reforma de Bolonha foi "muito positiva" e apenas 0,1 por cento lhe deu nota negativa.
A conclusão foi apurada no relatório "Trends 2010: Uma década de mudança no ensino superior europeu", divulgado pela AUE, que tem analisado o impacto da reforma de Bolonha no ensino superior, ao longo da última década, em 46 países.
Esta reforma abrangeu 373.002 estudantes do ensino superior no ano lectivo de 2008/2009 em 136 instituições reconhecidas.
Tal como alertava Rafael Guimarães, na área da empregabilidade, o estudo reconhece que "há ainda problemas (…) sobretudo ao nível da estrutura Licenciatura/Mestrado nos países que introduziram este ciclo pela primeira vez", porque "os empregadores não reconhecem totalmente esta nova qualificação".
O relatório "Trends 2010: uma década de mudança no ensino superior europeu", redigido por Andrée Sursock e por Hanne Smidt, baseia-se num questionário feito em 821 universidades e 27 associações universitárias em 46 países.

* - com Lusa

http://www.diarioviseu.pt/11069.htm

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