sexta-feira, janeiro 17, 2014

OS “deuses” DOS ESTÁDIOS NÃO SÃO ETERNOS...NEM IMORTAIS...



OS “deuses” DOS ESTÁDIOS NÃO SÃO ETERNOS...NEM IMORTAIS...
Para começar a falar do “fenómeno Eusébio” que, desde 5 de Janeiro, avivou tantas paixões, à volta do “pantera negra”, devo esclarecer, primeiramente, quanto gozo me deu ver este jogador, nos anos sessenta, quando começava minha missão de sacerdote jovem.Em segundo lugar, quero afirmar que eu mesmo fui praticante de vários desportos na minha juventude e que ainda hoje aprecio ver os artistas do futebol na prática deste desporto, com arte e com alma, como o fazem Ronaldo e outros, em momentos decisivos. Isto não me impede de observar que achei exageradas muitas afirmações de vários admiradores e comentadores, que endeusaram uma pessoa modesta, simples e humilde, que deu o seu melhor para engrandecer o nome de Portugal, mas que não fez nada de excecional, que o pudesse guindar ao Olimpo dos deuses e de lhe atribuir epítetos que vão desde “imortal” até “eterno. Não podemos exagerar. Devemos ter o sentido das proporções e saber relativizar, pois saber dar uns pontapés na bola, com arte e com alma, não é algo de transcendente, que contribua muito para o progresso humano e para o desenvolvimento da fraternidade e da solidariedade...
  O que digo desta exaltação excessiva de Eusébio, que eu admiro, com moderação, digo-o, igualmente, a respeito de Ronaldo, que recebeu a condecoração de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique. Não é que Ronaldo não seja uma figura universalmente conhecida e até merecedora da gratidão de todos os portugueses, que o viram, ainda há poucos dias, salvar a honra da Pátria... Mas será que a comenda cairá bem na sua função? Quanta gente que elevou a pontos altos a nossa identidade e a nossa cultura, quantos sábios e pensadores, quantos descobridores e cientistas, quantos inventores das novas tecnologias ficam, até ao fim da vida, no esquecimento dos poderes públicos, quando um simples futebolista se vê assim exaltado, numa curta vida, por feitos apenas desportivos!
Confesso que, apesar da minha admiração por estes dois futebolistas, as manifestações, que, em ocasiões como a que vivemos nestes dias, me parecem desajustadas.
Bastou que a morte de Eusébio da Silva Ferreira fosse anunciada para que esta lenda do futebol, que passou vários anos em relativo esquecimento, estivesse agora nas conversas de toda a gente e nos ecrãs de todas as televisões. A morte, como tantas vezes acontece, lançou-o nos píncaros da fama. Jornais, rádios e televisões apresentavam comentários exaustivos à pessoa e à obra deste “deus” dos estádios e os encómios eram unânimes em todas as bocas. Também eu admirei os seus feitos e me emocionei, nos tempos em que ele era admirado e aplaudido. É compreensível e aceitável que o país, que se revê nos heróis da bola, se emocione e comente. Mas, na minha opinião, quando se comenta demasiado nem sempre se acerta. Os meios de comunicação social entraram numa espiral de comentários, de memórias de exageros, de excessos, de infantilidades e de juízos que roçavam o caricato, que não serviram para engrandecer a figura que queriam homenagear.
De repente é o unanimismo mais completo. O “rei absoluto”, num país republicano, faz a unanimidade entre direita e esquerda, entre conservadores e progressistas! De repente nem governo nem oposição, nem assembleia nem troica. Não se fala mais de cortes salariais nem de diminuições nas pensões. Como que entramos na mais completa das pazes sociais como já não víamos há muito! Perante um Eusébio, a quem a morte ceifa aos 71 anos, calam-se as discussões e, por uma vez, o país, une-se à volta desta figura emblemática. Como seria bom que tal acontecesse na política e que todos nos uníssemos para salvarmos a pátria, num governo de salvação nacional...Não seria isto muito mais útil?
Tanto exagero, tantas expressões hiperbólicas, tantos comentários desnecessários, onde se somavam palavras e faltavam ideias. Às tantas, saltitei entre as diversas estações de Tv. e verifiquei que todas elas só tinham um tema a tratar: morte de Eusébio. E, para finalizar, o sacerdote que presidiu ao funeral no Lumiar, termina a oração fúnebre, com um viva sentido ao Benfica!
Entre palavras desajustadas e imagens repetidas e repetitivas surgiram coisas como “o maior português de sempre” ou “todo o mundo vai sentir a sua falta” e, a terminar, a proposta demasiado temporã de o colocar no panteão nacional. Será que há critérios objetivos para aqueles que lá deviam chegar por mérito próprio e não por emotividade à flor da pele?
Compreendemos que a morte de Eusébio tenha sido tão sentida em todo o país, a sair duma crise tão prolongada, mesmo para além dos que gostam do desporto, pois ele engrandeceu o país e criou amizades que vão para além da morte. Mas acho que a melhor homenagem, nas palavras do Presidente da República, será seguir o seu exemplo, a sua modéstia, a sua simplicidade e humildade. Os excessos cometidos no calor da emoção serão certamente corrigidos e os nossos jogadores vão certamente primar pela correção que ele sempre praticou e os clubes, sempre em guerras cegas e surdas, vão igualmente lutar pela verdade do desporto e não por exibicionismos ocos e demagogias estéreis. Eusébio, que Deus o guarde na Sua paz.
A.MATOS
Recebi via Email de R. Balula

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