Altar com dois mil anos
desvenda nome de Viseu
Dedicado aos
deuses, este altar com quase dois mil anos fala no povo “vissaieigenses”.
Descoberta em 2009, pedra regressa a casa depois de ter sido resgatada de
depósito. Vai estar em exposição no átrio da autarquia e integrar o acervo do
futuro museu da cidade.
11 de
Dezembro de 2017, 9:01
Foto
Monumento
foi encontrado em 2009 e agora resgatado de armazém
Um altar de
pedra com dois mil anos que revela a origem do nome da cidade de Viseu vai ser
exposto ao público, quase uma década depois de ter sido descoberto.
A ara, da
época romana, foi encontrada em 2009 durante umas escavações na zona histórica
e é considerado o achado arqueológico mais relevante na construção da história
da cidade. Guardada num caixote nos últimos anos, a pedra em granito fino foi
resgatada para ficar, para já, em exposição no átrio da Câmara Municipal ainda
durante o mês de Dezembro.
Datada da
segunda metade do século I d.C, o altar é um dos mais antigos monumentos
epigráficos de Viseu. A inscrição, em latim e totalmente perceptível, diz, na
sua tradução: “Às deusas e deuses vissaieigenses. Albino, filho de
Quéreas, cumpriu o voto de bom grado e merecidamente.”
Segundo os
historiadores e investigadores, com esta dedicatória, Albino, uma personalidade
da época, materializa o cumprimento do voto feito às divindades de lhes erguer
um altar. E ao dedicar a mensagem aos “deuses vissaieigenses”, percebe-se que a
palavra deriva de Vissaium, o nome da cidade naquela época.
A mais
antiga referência escrita do nome de Viseu remontava ao século VI, sob a forma
"Viseo".
“Não deve
haver outra peça tão importante sobre a história de Viseu como esta ara.
Através da inscrição consegue-se saber o nome dos habitantes que cá estavam
quando os romanos chegaram”, assinala o arqueólogo Pedro Sobral. O especialista
destaca ainda que o altar foi encontrado “num sítio muito perto onde estava o
templo do fórum da época romana, o centro religioso, político e
administrativo”, o que demonstra a importância desta urbe.
O arqueólogo
conta que até 2009 havia muitas teorias, “algumas delas disparatadas”, sobre a
origem do nome da cidade e “este altar desvenda esse mistério” ao mesmo tempo
que demonstra que Viseu poderá ter sido capital de um vasto território.
Através dos
estudos onomásticos, os historiadores e investigadores chegaram à conclusão de
que a cidade, antes dos romanos chegarem, chamava-se Vissaium que evoluiu para
Vis (s) eum (Era Romana), a seguir Viseo (Idade Média) e, finalmente, Viseu.
“O estudo
preliminar leva-nos também a sugerir que a ara materializa um voto às deusas e
deuses viseeicos, sendo o seu dedicante alguém abastado, a julgar pela
qualidade e imponência do monumento”, contam os historiadores para quem o altar
assume também especial importância para o conhecimento do panorama religioso da
região de Viseu.
“Mais uma
vez esta peça é única porque dá a conhecer uma entidade divina que acabou por
entrar para o panteão dos deuses romanos”, esclarece o arqueólogo.
Primeira
pedra do acervo do futuro museu da cidade
A ara foi
encontrada no âmbito de acompanhamento arqueológico da abertura de uma vala
para a instalação do funicular na Travessa da Misericórdia, bem perto da Sé de
Viseu. Na altura, o achado foi dado a conhecer e foi objecto de vários artigos
em revistas da especialidade e em congressos. Chegou também a iniciar uma
“digressão”, denominada “Rock Tour”, que começou na Fnac, onde o altar esteve
em exibição, e que pretendia percorrer outros espaços do concelho. Mas, o
monumento acabou fechado, dentro de um caixote num depósito nos arredores de
Viseu, num armazém que contém mais achados arqueológicos que estão guardados.
Depois da
exposição no átrio da câmara, é intenção da autarquia que este seja o primeiro
objecto do acervo do futuro museu da cidade.
“A ara é uma
primeira pedra, literalmente, na vontade de constituir um primeiro acervo para
o museu da cidade que é um objectivo que está inscrito no nosso programa”,
sublinha Jorge Sobrado, vereador da Cultura e Património.
Para o
autarca, “este regresso a casa do altar é um modo de valorização e promoção de
um grande ícone de Viseu, mas é também simbólico daquilo que é o nosso
objectivo de, dentro de um quadro de valorização do património, fazer um trabalho
ligado à investigação, à salvaguarda, à valorização e à divulgação”.
“Trata-se de
um documento e de um monumento únicos”, justifica. “Através deste documento,
conseguiu-se trazer luz ao mistério que sempre envolveu a origem do nome da
cidade de Viseu. O nome mais antigo, alguma vez descoberto, é Vissaium”,
sublinha.
O presidente
da autarquia “vissaieigense”, Almeida Henriques, considera que colocar em
exposição o altar milenar é “um belo presente de Natal para os viseenses e para
todos quantos gostam de património e história”. Acredita que este achado
arqueológico contribui, também, para a promoção do turismo em Viseu.
“Queremos
fazer um resgate do nosso património histórico e esta devolução à cidade tem um
grande significado”, afirma ainda. E conclui: “Não era compreensível que
esta peça, pelo seu singular valor simbólico, continuasse fechada num armazém”.
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