Cara
Mariana, no seguimento à sua brilhante frase “Temos de perder a vergonha e ir
buscar dinheiro a quem está a acumular dinheiro”, permita-me a minha revolta
nestas palavras que lhe dirijo: Esta sou eu com 16 anos no meu 1º trabalho, nas
férias do Liceu (não, não é photoshop nem posei para a fotografia, estava mesmo
a trabalhar!). Ganhei o meu 1º salário, 30 contos, como operadora de empilhador
numa bloqueira. Aos 17, já carregava camiões, com chuva e pó nas ventas ao
volante de 1 máquina de maior porte. Com 6h de trabalho intenso, onde por vezes
era preciso montar paletes (de blocos de cimento), seguia pra escola. Aos 18 já
era independente e pagava as minhas contas. Ingressei no ensino superior. Dava
aulas durante o dia todo e seguia para o Porto, estudar à noite. Formei-me a
pagar meus próprios estudos como trabalhador estudante. Comprei aos 23 anos meu
1º carro sozinha (1 super cinco em 2ª mão). Aos 28 anos construí 1 casa com
empréstimo bancário que paguei durante 15 anos. Aos 35, tinha já 1 poupança de
alguns milhares. Ao longo dos meus 50 anos, já fiquei sem emprego mas nunca sem
trabalho. Só estive 4 meses no fundo de desemprego, para logo de seguida
empreender. Quando estive grávida deixei perplexa a funcionária da segurança
social perante minha ignorância e não ter, por isso, requerido subsídio. É que
meus pais ensinaram-me a trabalhar, não a viver à custa do Estado. Não
desenvolvi essa habilidade. Porque apesar de não ter dividido como o meu pai, 1
sardinha por três, cresci sem saber o que era abundância. A dar valor a tudo o
que se tinha. A lutar. A fazer reservas para o futuro. Emigrados no Canadá, e
porque era preciso “acumular dinheiro”, não tenho 1 lembrança, em criança, de 1
passeio com meus pais, de 1 almoço fora, de 1 férias… Os brinquedos, ainda hoje
consigo lembrá-los todos. As roupas e calçado, só quando eram mesmo precisos.
Vivi em casas modestas dormindo na sala. Porque era preciso “acumular
dinheiro”, aos 5 anos tive de aprender a tomar conta de mim sozinha (ter
babysitter é prós fracos). Porque meu pai , acampado nos bosques onde cortava
pinheiros, só vinha ao fim semana. Minha mãe, tinha 2 empregos (era contínua e
fazia limpezas), só a via à hora de almoço porque saía às 5h e chegava sempre
pelas 24h. Cresci sozinha porque era preciso trabalhar arduamente para
“acumular dinheiro”. Porque o meu pai não assaltou bancos. O que tinha era mesmo
dele. Saiu-lhe do corpo. Por isso, vocês é que deveriam ter VERGONHA. Porque é
preciso ser-se muito NULO para não saber governar sem sacar a quem faz pela
vida. Criar grupos de trabalho de como assaltar as poupanças e património, em
vez de procurar estimular e incentivar a economia. Porque de facto, já não
pagamos impostos suficientes. Saiba que os “acumuladores de dinheiro deste
país, trabalharam arduamente para o ter. Sejam grandes ou pequenos acumuladores
de dinheiro”, TODOS começaram de baixo (excluo aqui, como é óbvio, os
criminosos assaltantes de bancos, de património, traficantes). E consoante as
suas aspirações, uns apostaram mais alto, outros menos, mas todos contribuindo
para o enriquecimento da Nação. E é graças a eles TODOS que a Mariana, sem mérito
algum, pousa o seu rabito no Parlamento. Porque não fossem eles, não haveria
salário para nenhum de vós, que a bem dizer, é um desperdício. O país não
precisa de parasitas que estudam meios para conseguir roubar mais a quem os
sustenta. Precisa sim de gente como nós, mais ou menos “abastados” que produz,
que investe, que cria postos de trabalho. Por isso, cada vez que estiver nessas
reuniões de “trabalho” sinta vergonha por mais 1 assalto à classe dos
“abastados” (classe média) em vez de começar por tributar o património dos
partidos políticos onde se inclui o vosso palacete ocupado à força depois da
revolução; por ter chumbado o decreto sobre enriquecimento ilícito; por ter
permitido as subvenções vitalícias; por fazer vista grossa à corrupção existente
no sector financeiro e organismos públicos; por proteger a classe que nos rouba
e empobrece: a vossa.
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