quinta-feira, agosto 19, 2010

democracia portuguesa Este é o maior fracasso



Artigo de Clara Ferreira Alves, no Expresso




(POR CLARA FERREIRA ALVES)
Não admira que num país assim emerjam cavalgaduras, que chegam ao topo, dizendo ter formação, que nunca adquiriram, (Olá! camaradas Sócrates...Olá! Armando Vara...), que usem dinheiros públicos (fortunas escandalosas) para se promoverem pessoalmente face a um público acrítico, burro e embrutecido.
Este é um país em que a Câmara Municipal de Lisboa, em governação socialista, distribui casas de RENDA ECONÓMICA - mas não de construção económica - aos seus altos funcionários e jornalistas, em que estes últimos, em atitude de gratidão, passaram a esconder as verdadeiras notícias e passaram a "prostituir-se" na sua dignidade profissional, a troco de participar nos roubos de dinheiros públicos, destinados a gente carenciada, mas mais honesta que estes bandalhos.
Em dado momento a actividade do jornalismo constituiu-se como O VERDADEIRO PODER. Só pela sua acção se sabia a verdade sobre os podres forjados pelos políticos e pelo poder judicial. Agora continua a ser o VERDADEIRO PODER mas senta-se à mesa dos corruptos e com eles partilha os despojos, rapando os ossos ao esqueleto deste povo burro e embrutecido.
Para garantir que vai continuar burro o grande "cavallia" (que em português significa cavalgadura) desferiu o golpe de morte ao ensino público e coroou a acção com a criação das Novas Oportunidades.
Gente assim mal formada vai aceitar tudo, e o país será o pátio de recreio dos mafiosos.
A justiça portuguesa não é apenas cega. É surda, muda, coxa e marreca.
Portugal tem um défice de responsabilidade civil, criminal e moral muito maior do que o seu défice financeiro, e nenhum português se preocupa com isso, apesar de pagar os custos da morosidade, do secretismo, do encobrimento, do compadrio e da corrupção.
Os portugueses, na sua infinita e pacata desordem existencial, acham tudo "normal" e encolhem os ombros.
Por uma vez gostava que em Portugal alguma coisa tivesse um fim, ponto final, assunto arrumado.
Não se fala mais nisso. Vivemos no país mais inconclusivo do mundo, em permanente agitação sobre tudo e sem concluir nada.
Desde os Templários e as obras de Santa Engrácia, que se sabe que, nada acaba em Portugal, nada é levado às últimas consequências, nada é definitivo e tudo é improvisado, temporário, desenrascado.
Da morte de Francisco Sá Carneiro e do eterno mistério que a rodeia, foi crime, não foi crime, ao desaparecimento de Madeleine McCann ou ao caso Casa Pia, sabemos de antemão que nunca saberemos o fim destas histórias, nem o que verdadeiramente se passou, nem quem são os criminosos ou quantos crimes houve.
Tudo a que temos direito são informações caídas a conta-gotas, pedaços de enigma, peças do quebra-cabeças. E habituamo-nos a prescindir de apurar a verdade porque intimamente achamos que não saber o final da história é uma coisa normal em Portugal, e que este é um país onde as coisas importantes são "abafadas", como se vivêssemos ainda em ditadura.
E os novos códigos Penal e de Processo Penal em nada vão mudar este estado de coisas. Apesar dos jornais e das televisões, dos blogs, dos computadores e da Internet, apesar de termos acesso em tempo real ao maior número de notícias de sempre, continuamos sem saber nada, e esperando nunca vir a saber com toda a naturalidade.
Do caso Portucale à Operação Furacão, da compra dos submarinos às escutas ao primeiro-ministro, do caso da Universidade Independente ao caso da Universidade Moderna, do Futebol Clube do Porto ao Sport Lisboa Benfica, da corrupção dos árbitros à corrupção dos autarcas, de Fátima Felgueiras a Isaltino Morais, da Braga Parques ao grande empresário Bibi, das queixas tardias de Catalina Pestana às de João Cravinho, há por aí alguém que acredite que algum destes secretos arquivos e seus possíveis e alegados, muitos alegados crimes, acabem por ser investigados, julgados e devidamente punidos?
Vale e Azevedo pagou por todos?
Quem se lembra dos doentes infectados por acidente e negligência do Ministério da Saúde Leonor Beleza com o vírus da sida?
Quem se lembra do miúdo electrocutado no semáforo e do outro afogado num parque aquático?
Quem se lembra das crianças assassinadas na Madeira e do mistério dos crimes imputados ao padre Frederico?
Quem se lembra que um dos raros condenados em Portugal, o mesmo padre Frederico, acabou a passear no Calçadão de Copacabana?
Quem se lembra do autarca alentejano queimado no seu carro e cuja cabeça foi roubada do Instituto de Medicina Legal?
Em todos estes casos, e muitos outros, menos falados e tão sombrios e enrodilhados como estes, a verdade a que tivemos direito foi nenhuma.
No caso McCann, cujos desenvolvimentos vão do escabroso ao incrível, alguém acredita que se venha a descobrir o corpo da criança ou a condenar alguém?
As últimas notícias dizem que Gerry McCann não seria pai biológico da criança, contribuindo para a confusão desta investigação em que a Polícia espalha rumores e indícios que não têm substância.
E a miúda desaparecida em Figueira? O que lhe aconteceu? E todas as crianças desaparecida antes delas, quem as procurou?
E o processo do Parque, onde tantos clientes buscavam prostitutos, alguns menores, onde tanta gente "importante" estava envolvida, o que aconteceu? Alguns até arranjaram cargos em organismos da UE.
Arranjou-se um bode expiatório, foi o que aconteceu.
E as famosas fotografias de Teresa Costa Macedo? Aquelas em que ela reconheceu imensa gente "importante", jogadores de futebol, milionários, políticos, onde estão? Foram destruídas? Quem as destruiu e porquê?
E os crimes de evasão fiscal de Artur Albarran mais os negócios escuros do grupo Carlyle do senhor Carlucci em Portugal, onde é que isso pára?
O mesmo grupo Carlyle onde labora o ex-ministro Martins da Cruz, apeado por causa de um pequeno crime sem importância, o da cunha para a sua filha.
E aquele médico do Hospital de Santa Maria, suspeito de ter assassinado doentes por negligência? Exerce medicina?
E os que sobram e todos os dias vão praticando os seus crimes de colarinho branco sabendo que a justiça portuguesa não é apenas cega, é surda, muda, coxa e marreca.
Passado o prazo da intriga e do sensacionalismo, todos estes casos são arquivados nas gavetas das nossas consciências e condenados ao esquecimento.
Ninguém quer saber a verdade.
Ou, pelo menos, tentar saber a verdade.
Nunca saberemos a verdade sobre o caso Casa Pia, nem saberemos quem eram as redes e os "senhores importantes" que abusaram, abusam e abusarão de crianças em Portugal, sejam rapazes ou raparigas, visto que os abusos sobre meninas ficaram sempre na sombra.
Existe em Portugal uma camada subterrânea de segredos e injustiças, de protecções e lavagens, de corporações e famílias, de eminências e reputações, de dinheiros e negociações que impede a escavação da verdade.
Este é o maior fracasso da democracia portuguesa

Clara Ferreira Alves - "Expresso"


Recebida por email de F. Pereira

1 comentário:

lourenja.blogspot.com disse...

Os políticos, por conveniência, não estão interessados nos acertos do sistema de forma a minimizarem esses defeitos e sujeitam-se a um 26 de Abril a curto prazo
Pina Moura, ex-ministro, simultaneamente foi deputado e presidente da empresa Iberdrola que em Portugal podia influênciar a EDP maior empresa Portuguesa. Como é possível verificando-se conflitos de interesses?
Numa sociedade onde “alguns” políticos se escudam no estatuto para fugir à justiça.
São premiados os incompetentes com atribuição de lugares com altos salários ou aposentações como os da CGD, Banc.Port. ou a GALP.
Subvenções vitalícias… Defendem em campanha eleitoral a idade de aposentação aos 67 anos e adquirem-na com apenas 49, ex. Dr. Santana Lopes e que acumula agora com o vencimento de deputado, repare-se que apenas os deputados podem acumular por inteiro mais de um vencimento. Para eles o tempo para aposentação conta a triplicar, apenas 12 anos de assembleia.
Recebem milhares de contos de subsídios de integração quando deixam a assembleia.
Cortam as regalias sociais e direitos adquiridos, de imediato, à classe média e salvaguardam os seus.
O património mais rentável do Estado foi entregue por tuta e meia aos privados, que são sempre os mesmos a comprar tudo.
Privatizam, para proveito próprio, tudo que é rentável.
Clamam que há Estado a mais porque querem reduzir o Estado a um mero fazedor de leis que são sempre no sentido de reforçar os seus privilégios e rapar as populações.
Clamam pela alteração da Constituição com o objectivo de a tornar maleável para a prossecução do assalto definitivo ao controlo do Estado.
Não aceitam a redução do número de deputados, gestores públicos e limite de mandatos na administração pública.
Pugnam pela eternidade e hereditariedade do poder argumentando que é através do voto, mas quase todos sabemos como isso se consegue.
O ensino é um caos que não forma os cidadãos, muita população é analfabeta funcional. Criaram-se as novas oportunidades para fins estatísticos.
As actividades económicas produtivas, as que criam postos de trabalho foram desmanteladas a troco de uns milhões vindos da UE e enriqueceram uma nova classe, emergente, nascida do crime e da corrupção deixando o país sem recursos e transformando-o numa espécie de feudo medieval preço de escravo, onde a força de trabalho se compra na praça pública por tuta e meia
O Estado perdeu a autoridade porque não consegue fazer justiça sobre todos os cidadãos, os pobres e classe média pagam as favas e os ricos de recurso em recurso acabam por não ser castigados, ex. Zézé beleza, Costa Freire que em primeira instancia eram castigados, mas depois do recurso não deu nada ou o caso das facturas falsas que acabou por prescrever.
Assistimos à desvalorização de quem trabalha valorizando quem especula. Os valores éticos e morais estão pervertidos...
A safadez é tanta que um cidadão informado, consciente e cumpridor, às vezes deseja ser ignorante para viver na ilusão de que isto é um país que tem justiça e ordem e que os seus dirigentes regem o seu comportamento por sentido de Estado com ética e pudor.
Enquanto os homens insistirem em medir as rendibilidades de algo só pela sua capacidade de gerar cifrões e se esquecerem totalmente da função social desse algo, então a sociedade está doente. Pessimismo qb-muito dinheiro está “calado”! Muitos estão habituados a subsídios!